domingo, 2 de dezembro de 2012

Não aconteceu em Ponta Grossa...

- Ana Carolina, Ana Carolina, ai, vem cá gostosa, ai Ana Carolina...
- Acorda, seu desgraçado! Quem é essa vagabunda?
- Que, o quê? O que foi sua doida?
- Tava sonhando com quem?
- Sei, lá Marisa! O que foi, pra quê me acordar assim?
- Mas você é muito sem vergonha, mesmo! Eu já lembrei quem é Ana Carolina. É aquela amiga da Suzana, que veio pra München...quando foi que você ficou com ela?
- Eu não. Não fiquei com ninguém, não. Ontem fiquei o tempo todo com você. Mal conversei com a Ana!
- Mas tava sonhando com ela, dizendo o nome dela, chamando de gostosa!
- Não, não é nada...os caras da faculdade ficaram falando...ela é bonita, devo ter ficado com isso na cabeça.
- Eu vou é ligar para Suzana e tirar isso a limpo, Eduardo!
- As quatro da manhã?
- Não quero nem saber! A Suzana tá de plantão na delegacia, deve estar acordada. Quero ver se você já conhecia essa menina ou o quê!
      Suzana nem sabia o que dizer para Marisa no telefone. Tinha ficado perto de Ana o tempo todo, no dia anterior. Mas como responder em nome da amiga? Ana tinha ido para Ponta Grossa visitar Suzana mas já tinha voltado pra Curitiba. Não tinha ficado com ninguém, que Suzana soubesse, e Suzana sabia de tudo da vida de Ana. E a Ana tinha namorado. Não era de fazer esse tipo de coisa. Esperou o dia amanhecer para ligar para a amiga e tentar entender o que tinha acontecido.
- Como assim, se eu fiquei com o namorado da sua amiga? Tá louca Suzana? Não saí um minuto de perto de você. E a menina tava com ele o tempo todo também. Nem olhei para ele. Juro.
- Sei lá. A Marisa tá enlouquecida, querendo ir para Curitiba, para você dizer na cara dela que não ficou com o Eduardo.
- Que bando de gente louca, eu tenho minha consciência bem tranquila. Fala para menina me ligar, se quiser. Não fiz nada não, nem olhei, mesmo!
      Ana não tinha feito nada. Não tinha olhado para ninguém. Ficou muito chateada. Por outro lado, sentia-se meio estranha ao pensar que um quase desconhecido pudesse sonhar com ela. Anos depois, passou por uma situação parecida, mas que pode aceitar com bom humor. O namorado estava dormindo em sua casa. De madrugada, começou a falar:
- Cara, que gostosa! Cara, aquela loira, hum, aquela loira é muito gostosa, aquela loira cara, a loira...
- Que é isso? Rodrigo? Tá falando com quem?
- Cara a gostosa, a loira gostosa da farmácia. Cara aquela loira é muito gostosa! Como eu queria aquela loira de papelão. A loira gostosa de papelão da farmácia.
- Como é isso? Rodrigo, que loira é essa?
- Nossa! Eu tava sonhando que conversava com o Pedro.
- Tava é falando de uma loira!
- Tá bom, é verdade. Eu tava falando pra ele da loira de papelão da farmácia. Desculpa, não foi por mal, eu juro. Nem é mulher de verdade...
        Pra que brigar a toa? Ana achou melhor dar risada. Lembrou do carinha em Ponta Grossa, sonhando sem motivos com ela mesma. Gostava do Rodrigo. Não valia a pena brigar por causa disso. E como diria Suzana, os homens são assim, todos loucos mesmo, pra que tentar entender?