terça-feira, 29 de dezembro de 2015

As nuvens (Laura Cavallin Veloso)

Sobe e desce
as vezes grande
as vezes pequena

Cobre o sol
Cobre a lua

É de algodão
ou não?

Como é que em dia ensolarado
se refresca?
Como é cair e ser pisado
no chão?

Nas poças se juntam
E voltam ao céu!


(Acabei de ganhar este poeminha da minha linda poeta Laura Cavallin Veloso)

quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Não posso perder

Não posso mais perder
Meu amigo
Consegue compreender?

Não assim
Sem volta
Sem explicação

Ah, sim
Conheço a dor
De querer voar
Num vôo pleno
Anestésico

Pensa que de tua anestesia
Outros por você sentirão
E que por mais que tudo esteja escuro
Latejante
Insuportável
Amanhã o sol volta a brilhar

Nada é eterno
Nenhuma dor é para sempre
Só a ausência

Não sei mais perder
Não quero perder mais
Nenhum amigo


domingo, 13 de dezembro de 2015

Lançadas

Lanço  minhas flechas
Em meu cavalo de aço
Penso trilhar em minha escadaria
Para o céu
Mas as portas de nuvens a trancaram
Para mim
Lanço a primeira
Meus olhos ardem
Lanço a segunda
Minhas lágrimas secam
Lanço a terceira
Que é feita de poemas e ilusões
Desisto e  já sem flechas
Reflito na existência
Quero recolhe-las
Descubro que já não
Há volta
Às flechas lançadas.

sábado, 28 de novembro de 2015

Cheiros e sabores 1

Gosto de pessoas verdadeiras
Que olham nos olhos
Falam o que pensam
E o que querem.

Acredito em amizades sinceras
E tenho amigos de mil anos atrás
Que me conhecem no olhar.

Gosto de trabalhar com gente
De pensar no coletivo
Posso ser um pouco mandona
Mas capricornianas são assim.

Pra conviver comigo
Tem que aceitar minhas manias
Deixar as coisas no lugar
Não invadir meu espaço.

Eu sei que as vezes sou chata
Mas fico na minha
Eu posso não ligar
Posso sumir
Silenciar

Porque preciso estar bem
Não sei mentir
E todas as vezes que tentei
A verdade fugiu por minha boca.

Estou deixando pra lá
Tudo o que me faz mal
Acho que fiquei mais birrenta
Passei a cuidar de mim.

Já não penso no futuro
Já não tenho ilusões
Mas meu mundo ainda sonho
Deixo as lágrimas pra depois.

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Quando ele voltou.

Quando ele voltou,
num instante se fez noite.
Em cada lugar, todos de todos os cantos
Adormeceram na paz.
Não houve excluídos.
Ele observou as criações dos homens.
Coçou sua barba.
E viu, que apesar de tudo o mundo era bom.
Entrou num carro veloz. Divertiu-se dirigindo. Meus filhos realmente são muito criativos, foi o que pensou. Mas a tarefa era árdua. Como uma mãe que espera seus filhos pequenos dormirem, iniciou a faxina. Num toque apenas, limpou todos os rios e mares. Devolveu peixes e toda forma de vida aquática para cada um deles.
Depois aspirou o ar. Encheu os pulmões e o devolveu purificado. Ar puro pelo mundo todo. Depois tocou a terra, que se tornou fértil.  E em todos os continentes brotaram árvores, alimentos e flores.
Foi aí que assobiou. E de seu assobio surgiram animais. Até alguns já extintos apareceram novamente.
Olhou uma motocicleta. Ligou o motor. Com os cabelos voando foi abençoando as almas dos homens. Curando feridas, resolvendo conflitos. Então piscou para o sol nascer. E as pessoas foram acordando limpas de toda maldade. Não existia mais vícios, nem guerras. Carcereiros abriram as portas das celas, sem lembrar ou entender porque um dia colocaram pessoas lá. Mulheres recolhiam crianças das ruas. E as crianças recolhiam cada animal abandonado. Vizinhos faziam mutirões e arrumavam as casas para que todos tivessem dignidade. Nos mercados as pessoas pegavam apenas o que precisavam. E foram trabalhar por poucas horas, só o necessário . E o tempo ocioso virou um grande sarau popular. Algumas pessoas cantavam, outras liam histórias para as crianças.  Não tinha mais aquele negócio de empregado e patrão.  Nem de horas afobadas.  Muito menos de levantar quando ainda havia sono. .. Cada um no seu ritmo ia produzindo o que sabia e gostava de fazer. E as crianças como nos tempos antigos, nunca mais foram para escola.  Voltaram a aprender pelo exemplo dos mais velhos. As pessoas perceberam que todo mundo estava dando conta de sua própria vida e ainda ajudando no que
 podiam o seu semelhante. E os políticos viraram comediantes, afinal já sabiam que toda forma de governo era uma grande piada, e bem sem graça!!!
Já cansado, pelo sétimo dia, certo de um trabalho bem feito, resolvendo descansar, voltou para o céu. E aqui, num novo mundo os povos instituíram uma mesma bandeira de irmandade. Nunca mais discutiram religião. Descobriram que Deus era Anarquista. E eu acordei.

sábado, 14 de novembro de 2015

Só por hoje

Cada manhã
Num processo de cura
Como um viciado
Vivemos da auto promessa
De não pensar
Em tudo que um dia
Fez mal
E por mais que a dor volte
Que  sufoque
A lei é apenas uma
Viver o hoje
Não ver
Não imaginar
Não sentir
Seguir em frente
Desejar o bem
Tentar sorrir
Não importa o amanhã
Nem o que já passou
Sonhos ficam no travesseiro
Saudade também
Só por hoje

http://m.vagalume.com.br/legiao-urbana/so-por-hoje.html

segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Tudo pode acontecer. - parte 03

Estava gelada. O medo misturou-se ao frio. Não sabia se acelerava ou se sacava a arma. 
-Suzana, posso entrar?
Assustada,  abriu os olhos. Estava na banheira. A água completamente gelada.
-Estou no banheiro. Já vou aí Guty! 
Maldita mania do Gutierrez de entrar com a chave que dei a ele, pensou. Não vê diferença entre emergência e invasão de privacidade. ..
Tomou um banho rápido de chuveiro pra se esquentar.
-Você me assustou Guty!!! Entrando assim sem avisar!
-Eu fiquei meia hora tocando a campainha, você não atendeu celular, o porteiro não te viu sair, teu carro e moto na garagem...Fiquei preocupado!
-E se eu estivesse acompanhada Guty? Não pensou nisso? Para de rir! Qual o problema?  
- Desculpa Su.  Mas faz tanto tempo que te vejo solitária, isso nem passou mesmo pela minha cabeça. ..
- Tá.  É verdade. Que droga, viu?
- O que?  Não vive dizendo que tá é muito bem sozinha, e que pra sempre será só sua e não de quem quiser? 
- Eu sei . Eu sei bem o que vivo repetindo, mas sei lá.  Queria pelo menos conseguir sonhar com algum romance... Sabe, as vezes viver assim, sem sentimento algum, sem ter nem em quem pensar...Deixa pra lá. Sou a Suzana, né?  "Quem poderá entender e etc..." Deixa pra lá!
- Você sabe que eu te entendo Su. Mas deixa pra lá mesmo. Temos dezenas de planilhas pra contabilidade. 
- As vezes acho que só mesmo o trabalho é o que me restou...Bora trabalhar!!!

domingo, 25 de outubro de 2015

*DOCE VINGANÇA DE DONA COISA E SUA AMIGA DONA POLACA (auto/cordel em vários atos) Maria Lorenci


Sujeito era esperto.
Durante anos namorou Dona Coisa direitinho, sem que ela desconfiasse de nada...
Era muito esperto.
Durante anos foi casado com Dona Polaca, e ela pensando que ele era o mais fiel dos maridos...
Era espertíssimo.
Durante anos ciscou por onde pôde, comendo uma que outra incauta nos intervalos...
E era apaixonado, criativo, fascinante. Um amante perfeito. Não era canastrão. Amava verdadeiramente aquelas mulheres. Todas ao mesmo tempo. Era muito generoso em seu amor.
A cada uma, seu quinhão:
Com Dona Polaca, a tranqüilidade da família, a roupa bem lavada, o capricho na comida. O respeito dos vizinhos. O cuidado com a família dele: mãe, irmã, pai. Pouco sexo, do ruim. Pouca conversa, só o necessário. Sem beijos. Secura pra litros de lubrificante...
Mas por que se preocupar, esperto que era?
Quando sentia necessidade de amor carnal, fazia a tradicional cara de coitadão e choramingava uns eus te amos no ouvido de Dona Coisa, a qual, como boa namorada, abria-se em beijos eternos e orgasmos espetaculares, ouvia suas insônias e partia, feminista que era. Sem ciúmes, sem deérres, sem crises.
Cara, a vida era boa.
Lar, sexo, emoções. Tinha segurança, companheirismo, futilidades.
Pra que morrer, né?
Só que morreu.
Teve um peripaque que o fulminou no meio da piscina do clube, onde nadava religiosamente todos os dias das sete ás nove. ( quando não estava ocupado mentindo pra alguém )
Avisaram Dona Polaca, a titular.
Ficou entre pasma e triste, mas achou melhor partir pra ação, prática que era.
Passou a mão no telefone e falou calmamente;
" Coisa, é a Polaca. O Sujeito morreu. chama teu primo e vem pra cá."
Dona Coisa desligou o telefone e fez outra ligação, lágrimas correndo pelos seios fartos.
"Marco, é a Coisa. Polaca te quer, Sujeito morreu".
Lá se foi o primo, agente funerário. Homem tranquilo, caladão, lindo de doer.
Enquanto isso, Coisa juntou o povo.
Chamou a ultima incauta, a outra que tinha fingido ter um bebê, as duas que dormiam juntas o tempo todo e de vez em quando fingiam se divertir com ele.
Lá se foram todas pro Agua Verde.
Chegando lá, foram direitinho cumprimentar a viúva, um beijo no rosto, um abraço apertado, olhares úmidos. Todas se conheciam muito bem. Algumas bem até demais...
E Polaca a receber as homenagens, enroscada no Marco, devorando com os olhos o italianão.
E Coisa a organizar a festa, recebendo o povo do boteco, os colegas dos dois no trabalho, a família que vinha de Sampa.
Olhando cúmplice pra Polaca, sorria de soslaio daquele jeito pisciano lá dela...
Ao anoitecer os estranhos foram se mandando, que ninguém mais acha graça em ficar preso em cemitério bebendo nenhum morto, não.
Depois, quem esperou algum escândalo ou briga de mulheres, se decepcionou. Nenhum espetáculo pras Matildes. Saco.
Ficaram sozinhas, as Donas. Marco quis bancar o discreto, mas a Polaca não deixou- "hoje tem jogo, meu bem- acabou a correria. Hoje tu vai pra casa comigo".
Olhando pela ultima vez pra cara de safado do Sujeito, ali tão vulnerável, Dona Coisa lembrou, divertida, do dia em que uma ligação vinda da casa dele quando ela estava no trabalho a assustou.
Do outro lado a voz firme da Polaca: "quero falar com você; toma um café comigo?"
Foi.
Pra sua surpresa, Polaca disse que dava graças a Deus pelo caso deles, que a deixava livre de ter de fazer sexo com o Sujeito, que vivia sugerindo coisas que ela detestava…
Resumo da opera: Polaca não tinha nada de frigida, como ele contava pra quem quisesse ouvir. Apenas não gostava de fazer sexo COM ELE. Mas o resto funcionava: estavam prosperando, ela tinha o respeito da família, e no fim das contas, Dona Coisa seria uma boa aliada. Conversaram mais um pouco, saíram dali boas amigas.
Para Polaca , Dona Coisa trouxe o primo Marco de presente-catolicão travado, fazia as coisas do jeito dela. Marco tinha sido a razão da secura apresentada ao Sujeito por tanto tempo. Não era secura.
Era um enorme
cansaço, que acabava por empurrar o Sujeito pras tardes tórridas de que Dona Coisa tanto gostava, a fazer alegremente tudo o que não fazia em casa.
E aí vieram as outras, aprovadas e consentidas. Cada uma tinha um apetite, e a cada uma, Sujeito se esforçava pra corresponder.
E achava que pegava todo mundo.
E achava que era muito esperto.
E morreu pensando isso.
O que elas todas não sabiam, é que ao Sujeito foi permitido dar uma olhada no próprio velório.
E que ali, sentado num canto, ele se espantava : "usado, traído, enganado, como assim?"
Percebia que as saídas da Polaca pra Novena nunca chegaram no Alto da Glória. Paravam ali num hotelzinho barato no centro da City. Com o tal de Marco. Que ele nunca desconfiou que existia.
Percebia que as que ele se orgulhava de ter pegado na macheza, na verdade estavam a serviço da Dona Coisa, a acobertar a Dona Polaca.
" Falar nisso, de onde essas duas se conheceram? Como haviam se entendido? Peraí: o amante da esposa era primo da namorada? Ahnnnn? Sério mesmo? Pode isso, Arnaldo? PELAS BARBAS DE KARL MARX!"
Mas um consolo o pobre recém-desencarnado tinha: Dona Coisa não tinha outro. Seus orgasmos eram verdadeiros, e só dele.
Ficou por ali, se despedindo, e quando Dona Coisa saiu da capela, lá pela madrugada, foi atrás, a ver se era possivel tocá-la, dar um ultimo arrepio naquele pescoço onde fora tatuado o Papa Léguas...
Ela parou perto de uma estátua, mexendo no cabelo, espreguiçando, se movendo como fazia ao se vestir, depois de arrasar com ele. Sujeito foi chegando perto…
Um barulho, um Gringo enorme com cabelos de viking parou a Harley, ergueu Dona Coisa com um dos braços à garupa, ela aconchegada ás largas costas, beijou a tatuagem de Coiote no pescoço dele.
(" ei, peraí, Coiote era eu !" - pois é, my friend- nunca fora. E agora, já era - quem mandou morrer?")
Pegaram a estrada, no rumo da praia. Vruuuuum e byby. Nem pro enterro ela ficou.
Algum anjo torto sussurrou no ouvido de Sujeito que foi Polaca a responsável pelo encontro de Coisa com o Gringo, e que uma acobertava a outra; o Marco e o Gringo se divertindo muito mais que ele. E que até a festinha do pijama que ele sempre pedira , sem conseguir, tinha rolado, animada, os quatro rindo juntos no mesmo dia em que ele tentou ( em vão...) comer a colega de trabalho chata e burra que teve o desplante de reclamar que ele era muito pequeno...
O Sujeito-Espírito chorou. Nunca pensou que traição doesse tanto.
Estava ali no chororô, quando a Luz apareceu: era hora.
Pensou: "vou me queixar a Deus , que há de enviar um cataclisma qualquer a punir toda esta iniqüidade e desobediência...."
Pé ante pé, atravessou a Passagem entre os mundos. Direto no rumo do céu, pois se acreditava um bom homem...
E foi se convencendo que haveria vingança...
Automáticas, se abriram as portas como as do Shopping Center...
E lá veio Deus a recebê-lo.
Quis correr, mas não soube como... Um medo pânico o invadiu.
Ali, bem na sua frente, muito séria, fazendo muxoxo, com os braços cruzados sobre o par de peitos mais bonito que já vira, lá estava Deus: A IVETE SANGALO!!!
A ultima coisa que ouviu, antes de ser atirado ao Inferno, foi um coro de anjas cantando aquele samba/axé: "cachorro, safado, sem vergonha..."
Foi caindo e pensando: se Deus é mulher, o Diabo deve ser homem. Com sorte, Corintiano."
( isso lhe seja concedido: o cara era cheio de esperança...)
Caiu no colo de um demonão estilo MMA, levou uns sopapos e já foi aos trancos sendo conduzido ao Líder.
Jogado aos pés do djanho, descobriu que não podia estar mais frito.
Pois o diabo, meu querido... o diabo, todo trabalhado no couro preto, cercado de uns vinte bofes marrentos com os mais variados chicotes e mordaças e alicates e punhais... o diabo...
Era ...
A Madonna!
( fecha o pano ao som de "Vogue" e dos gritos desesperados do Sujeito...)


Publicado com autorização da autora Maria Lorenci a quem agradeço em meu nome e em nome da 
Delegada Suzana! 

sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Tudo pode acontecer - parte 02

- Que vergonha, Suzana! Uma mulher com mais de quarenta com medo de tempestade e de uma lâmpada quebrada!
Suzana trocou a lâmpada, limpou os cacos. Preparou um banho bem quente na velha banheira. Estava de volta em Curitiba. Após um período trabalhando em Foz do Iguaçu pediu transferência.  Gostava de estar na sua cidade, embora odiasse o frio. E também não achava justo deixar toda a responsabilidade da empresa de segurança nas mãos de Gutierrez.
Deitou. Fechou os olhos. Precisava daquele "carinho " da água tocando seu corpo. Sentia-se só.  Não triste. Apenas só. Como se nada ou ninguém jamais tivesse como transpor aquele mundo só seu. Às vezes sentia vontade de voltar ao tempo em que fazia planos, junto com a amiga Ana, na varanda de uma casa que nem existe mais.
- Nenhum daqueles planos deram certo, talvez por este motivo não acredito mais em fazer planos...
Deixou os pensamentos desaparecerem. Acabou adormecendo dentro da banheira.
Num instante já não estava no antigo apartamento.  Pilotava sua Cbx 750 em ruas escuras e desertas. Conhecia bem aquelas ruas, aquele bairro. Mas, um pavor tomou conta dela. Algo como uma sombra enorme parecia querer engolir a moto. Sentiu o coração disparado. Teve impressão de conhecer a voz que saía da sombra, chamando seu nome.

Continua

quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Tudo pode acontecer -parte 01

Já havia passado tanto tempo do retorno de Ana, mas constantemente Suzana lembrava de tudo o que havia acontecido na vida da amiga. Esta seguia sua vida como se nada houvesse acontecido. Trabalhava no Jornal, estava até saindo com um carinha interessante, o Tiago. E Suzana naquela de ficar remoendo e lembrando os acontecidos. Pensava alto e respondia ela mesma aos seus comentários :
-Você precisa parar de pensar em coisas passadas, Suzana!
-Capricornianas!  Tudo precisa ser assim, como um fardo pesado? Tão mais leve é a Ana, tem suas explosões de escorpiana, mas passa, perdoa...Nem lembra... Bem na verdade, acho que ela é que tem razão! Aquilo que vi, foi apenas mais algumas ilusões, como tantas outras que tive no passado. Vampiros, outros mundos. Tudo ficção... E esse Victor nunca deve ter existido. Talvez uma fantasia da Ana. Por tudo o que passou tentando esquecer o Doutor.  E não é?  Agora ela está lá, feliz com sua vida de volta, com seu novo amor...E eu aqui, pensando em bobagens de adolescente que imagina coisas...Não.  Realmente toda aquela história deve ter alguma explicação lógica. ..
Neste momento, um relâmpago lá fora e uma explosão dentro do quarto. Tudo escureceu. Instintivamente Suzana sacou a Glock e colocou-se entre o armário e a parede.

Continua

sábado, 26 de setembro de 2015

Família



Família é pai e mãe sim.
Também é avó
Tio
Madrasta
Família é quem cuida!
Família tem irmão
Tem briga
Tem carinho
Família é coração!
Pode ter dois pais
Ou apenas uma mãe
Pode ter uma madrinha
Família é estar junto
É querer o bem!
É quem educa!

quinta-feira, 10 de setembro de 2015

No caminho

No caminho
Um homem caiu
Em frente ao carro dela
O pisca alerta
De qualquer jeito largou o carro
No portão de um prédio qualquer
E o homem com hálito de quem bebeu
Ela lembrou seus medos
Tinha tanto medo que seu pai
Passasse mal numa rua escura como aquela
Medos que já não faziam sentido
Depois que ele se foi
Mais gente ali querendo ajudar
No chão uma carteira e cigarros
Ele não aceita ambulância
Não quer ligar pra ninguém
Teima um pouco
Pede pra chamar os amigos
E alguém vem
Provavelmente o dono do boteco
Consegue levar o homem
Nada mais a fazer
Ela entra no carro
E chora sem parar
Sem saber o motivo, chora
Acha que é pelos filhos
Que nem sabe se o homem tem
Ou que é de saudade
De quando se preocupava
Com seu próprio pai.

quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Vinte e sete


Hoje é o dia das palavras
Que nunca saíram da boca
E dos sonhos enterrados vivos.
Hoje é o dia dos lamentos
Das ilusões cremadas
Hoje é o dia de festejar a solidão
Dos anos perdidos
De odiar e amar
Hoje é dia de segurar as lágrimas
De fingir que a vida continua
Hoje é dia das máscaras sorridentes
Do riso histérico e fosco
Hoje é dia de contar os anos desperdiçados
E dos corações despedaçados.

segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Gritos de socorro de uma escola pública.


Você preferiu  fumar a pedra
E a criança na escola se rebelou.
Você saiu de casa
E seus filhos abandonou.
Você ficou inerte.
Foi você que o pó cheirou.  
Mas foi a menina que na escola
O braço todo cortou
Você a culpou por ter nascido
Algo que ela jamais escolheu
Ela ficou fora de sala
Agrediu o colega
Ofendeu o professor
Mas foi você que abandonou.
As notas dela estão baixas
Acho que vai reprovar
E você?
Quem vai censurar?
Seu novo bebê está bem cuidado.
O novo padrasto é lindo e sarado.
O mesmo que dela abusou.
Ela fugiu da aula
Cigarro fumou
Tava na pracinha
A praça dos 4:20
Foi a "tia" da cantina que viu
Quando a patrulha passou
Ela tá sangrando
Nos braços e na alma
Ela tá sozinha
Mas a mãe tem que trabalhar
Não pode perder tempo
Pra conversar com o professor
Ela já ganhou um celular novo.
Isso já não bastou?
Cadê você?
Cadê a família?
O pai, a avó, a tia?
Cadê o teu amor,
Os limites,
O exemplo?
Cadê você?
Que pra escola "criar"
Pro mundo "educar"
Essa criança abandonou?

quarta-feira, 1 de julho de 2015

Apenas uma história de amor.

A vida em si, tantos anos de desilusão a tornaram alguém fria . Quase que imune  a sentimentos. É como um calo. Dói tanto,  que um dia torna a pele dura, protegida de qualquer sensação.
Talvez a maturidade faça isso também. Transforma o mundo num esquema de obrigações e sobrevivência. Acaba por tornar os dias sem quaisquer outros propósitos que não aqueles de trabalho e de contas pra pagar. 
A diferença, é que houvera um tempo em que na vida dela ainda existira espaço para sonhos e ilusões. Aquilo parecia tão longe e perdido no tempo como as lembranças de infância.  Algo que a lembrava sorrisos, que ficaram pra trás. 
Ele ficou meio apavorado. Tinha gostado dela assim que a viu. Quando tentou chegar um pouco mais perto, esbarrou. A metade do que restava do copo de cerveja foi  derramada no vestido dela. Não sabia o que falar. Queria se desculpar. ..Gaguejou. Naquele momento desapareceu o homem confiante e capaz de silenciar um auditório inteiro em suas palestras. Parecia um menino tímido. Ela disse que estava tudo bem. Que já estava indo pagar a conta. Morava ao lado do bar, realmente não importava.
Encontrar ela, no dia seguinte, naquele café foi para ele como a probabilidade de ganhar na loteria. Sem a influência do álcool, ao contrário de muitas pessoas, ele voltava a ter a confiança e a visão de uma boa oportunidade. Pediu licença  para sentar na mesa dela. Ela instintivamente segurou a xícara de café. Relembrou o banho gelado. E as primeiras palavras dele foram exatamente desculpas pela noite anterior. Os olhos dela se voltaram ao livro que ele tinha em mãos. Era o mesmo livro que ela estava lendo. O autor era um de seus preferidos como também um de seus melhores amigos. A partir daí, descobriram um mundo de coisas em comum. Era como se em segundos tivessem se transformado em amigos íntimos. Horas depois, o amor tomava conta de seus corpos e corações. Ele era a ilusão que ela havia desistido de sonhar uma vida inteira. Era alguém que ela imaginava não existir. E ela, era o abraço do qual ele nunca mais queria sair.




http://m.vagalume.com.br/nando-reis/sei.html

quinta-feira, 18 de junho de 2015

Além

Além.

Sombra  é o pouco que lembro,
Você estava sobre mim,
Frenético.
Pouco a pouco, senti que saía do corpo,
Não era o prazer, não eram seus movimentos,
Eram as duas almas que subiam,
Num estágio maior que qualquer prazer.
E eu disse, serei pra sempre tua.
Nenhuma palavra de minha boca saiu.
Você já fazia parte de mim.
Unidos numa força muito maior.
Senti teu gozo,
Mas, longe dos corpos, o que se sentia era muito maior.
Lágrimas saíram dos meus olhos,
Sem que você pudesse perceber.
Acho que você nem entendeu,
O que estava acontecendo.
Seu corpo suado, jogou-se para o lado.
Dormiu.
Não sabe, que não poderia mais separar.
Que em outros corpos, no superficial,
Nunca achará.
O que está unido
Além.

Elas são de Marte. Mulheres sem Censura. Palavras Escolhidas, 2014.

quarta-feira, 10 de junho de 2015

As almas e os lugares.

Acho que as casas tem almas.
Refletem as energias dos que habitam.
Há lugares pesados.
E outros que nos fazem bem.        
Existem casas no meu coração.
De um tempo passado.
Mas jamais esquecido. Quando posso, eu visito algumas casas.  
As vezes, fico triste. Uma casa foi demolida. E dela restaram tão boas lembranças. ..Outra perdeu a varanda. Isso me comoveu. Varandas são como um convite. Lugar pra sentar, conversar com os amigos, ler, tomar um café ou uma cervejinha. ..Dou alguns tapinhas carinhosos na parede do quarto deste apartamento ancião onde moro e escrevo. Um prédio cercado de histórias.  De sorrisos e de tragédias. Faço as contas. Deve ter uns bons sessenta anos. Amo este prédio! Entre suspiros, percebo que é melhor levantar. Hoje, às aulas reiniciam no colégio cinquentenário onde trabalho...Acredito que escolas também tem almas...E eu, nesta fria manhã de Curitiba, carrego a contragosto meu corpo cansado pra lá. Tenho que trabalhar!


segunda-feira, 1 de junho de 2015

Pássaro Ferido

Seu canto triste
foi ouvido em todos os cantos
Não havia Passargada
Somente as pedras do caminho

Semeando uma lágrima
E regando sem esperança
Teve pesadelos quando
Nem podia dormir

E os quatro cantos
Ouviram seu pranto
Os anjos também se foram
E o sol apagou

Seu riso forçado
Seu trabalho pesado
E o escudo de fogo
Era a salvação

Mas  da terra brotaram uivos
Canhões dispararam medos
E ela fechou os olhos
E morreu.


sexta-feira, 29 de maio de 2015

Não vejo

Procurei em meus versos
Tentei achar uma canção
Mas as coisas estão mais difíceis
Por esses dias tão abstratos

Acho que até a lua foi embora
Não me arrisco em olhar pela janela
Eu já tinha dito que não importava
Se isso doesse em mim

Não é engraçado como tudo dá errado
E rimos porque faz tempo que a esperança
Se foi

Até meus passos calculados
Estavam todos enganados

Não é engraçado quando tudo está errado?
Se rimos é porque faz muito tempo que ela
Se foi

Até meu choro afogado
Tem a grandeza do mar
Eu não o vejo
Sinto e posso escutar

Nada será tão fácil
Eu sempre soube

A janela deixei fechada
Com a desculpa que chovia
Ilusão também amarga
Não encontrei versos nem canções.

terça-feira, 19 de maio de 2015

A falcatrua ou a história do trigo, como quiser. ..

-Enquanto você leva o trigo da sua falcatrua, eu já fiz torradinhas do meu pão pronto!
- Como é?  Não estou entendendo Suzana. Tá falando de que exatamente?
- Dos teus e-mails! Eu os sequestrei!
- Você o quê?
- Sequestrei o teu e-mail. Mudei a senha. Coloquei meu telefone para segurança. Ou seja, todas as suas contas ligadas ao e-mail estão em meu poder.
- Não acredito Suzana. Como fez isso? Por que?
- Já falei demais. Se quiser seu e-mail de volta esteja aqui amanhã às nove horas. Aí negociaremos. E sem atraso!
-Você vai querer dinheiro pelo meu e-mail?  Enlouqueceu?
- Dinheiro?  Óbvio que não quero teu dinheiro! Não é assim que cobrarei o resgate...Amanhã às nove. Tchau, Beijos!

Continua.

sábado, 9 de maio de 2015

Amor Perfeito

Acho que toda mãe deveria aprender a nunca ir com os olhos maquiados nas apresentações de escola de seus filhos.  É, mas quando minha quinta filha está prestes a deixar a educação infantil, eu, mãe experiente ainda não aprendi. Volto com os olhos borrados,

o coração feliz, uma flor desenhada por minha princesa, e sementes de Amor Perfeito. Minha flor preferida.
Ando na rua com minhas três meninas, e nossa alegria é aparente. Falamos sobre as sementes.  Minha filha mais velha me conta, que quando ela e o irmão eram pequenos um dia comentei sobre minha preferência sobre o Amor Perfeito. Era próximo ao dia das mães.  Os dois lembraram que as floreiras da rua XV de Novembro estavam repletas de vasos dessa flor. Como ainda não tinham idade suficiente para saírem de casa sozinho, passaram horas arquitetando planos de ir até a XV surrupiar dois vasos... . Pensaram em convercer a babá a levar os dois lá pra cumprirem o plano. Depois de muito confabularem,  chegaram a conclusão acertada que eu ficaria muito braba se fizessem algo do tipo. E que provavelmente os faria voltar lá e devolver os vasos. Então dez anos depois fico sabendo que meus filhos mais velhos, um dia planejaram um furto pra me presentear, mas que, sozinhos, concluíram que aquilo era errado e contra tudo o que eu ensinava a eles.
Não é fácil educar cinco crianças, mas quando os vejo assim, tomando as próprias decisões, fazendo o correto, penso que eu estou no caminho certo.
Como digo sempre, não sei de tudo, erro também, as vezes pareço autoritária, injusta. Antes de ser mãe, também sou humana. E tudo o que faço é sempre na tentativa de fazer o melhor possível. E com a certeza de que nenhum amor se compara ao amor incondicional de uma mãe por seus filhos. O único e verdadeiro Amor Perfeito.
Termino aqui com um grande beijo à todas as mães.

sexta-feira, 8 de maio de 2015

Desistentes

Queria saber o que se perdeu
Quanto a quanto se foi
Disformes sem sentido
Sem sentimentos
Em espaços redimidos
Num olhar
Relance
A frente
Será mesmo?
Numa constante, num abismo
Ou somente ao luar
                                                     
Porque o poema também perdeu
Como eu
E meus sentidos
Desistentes

quarta-feira, 6 de maio de 2015

segunda-feira, 4 de maio de 2015

Hora da faxina.

Quase ninguém gosta de fazer faxina, mas ela as vezes se torna necessária. Abrir o guarda roupa, tirar tudo o que não se quer mais, mandar pra quem precisa...
Na vida tem que ser meio parecido, não?  Eu pelo menos já fiz algumas vezes. Separei os
 que já não cabiam e descartei. Mesmo com pessoas muito próximas. Da minha família... Pode parecer insensibilidade. Só que acredito que família são aquelas pessoas que escolhemos e queremos bem pertinho. Pessoas que amamos, e que principalmente nos amam. 
Uma das minhas melhores qualidades é a resiliência. Estou sempre voltando à minha forma perfeita. 
Tive que aprender muito cedo a me virar sozinha. E foi a dor que forjou minha armadura pra lutar. Nada disso me levou a revolta.  Ao contrário. Foi o que me ensinou o valor de se ter uma família com bases sólidas. 
  • Na verdade,  é quase como um jogo. Ou passamos de fase ou perdemos.  E podemos reiniciar. Já pedi exoneração de cargo público três vezes. .. A primeira vez eu tive medo, mas no dia seguinte eu estava lá, assinando nomeação...Como uma roupa nova! Então,  voltamos àquela parte de limpar o guarda roupa. Chegou a vez de faxinar a vida virtual. Assumir uma postura minimalista. Tirar tudo o que não serve mais, excluir, bloquear. Passar de fase. 
Com isso,  o mundo real também ficará menos poluído, mais fácil de respirar. 
Só vou manter quem me leva pra frente, quem acredita e luta por um mundo melhor, quem escreve poesias e não resmunga pelos cantos, quem consegue ver além dos limites do seu umbigo.
Então me dêem licença, tenho muito trabalho. A faxina começou!!!

sexta-feira, 1 de maio de 2015

Hoje me vi menina.

Hoje me vi menina
Por horas na janela
Achando bonita a música
Que aquela gente cantava

Pra mim pareciam tristes
E minha memória é cinza
Parece que não haviam cores
Olhando do sétimo andar

Minha mãe disse que era do Vandré
Contou histórias de festivais
Eu tinha pena daquele povo
Que cantava a dor e esperança

Hoje olhei aquela janela
Em frente à prefeitura
Me vi chorando
Me vi sozinha

Hoje me vi menina
Pensando que viver não era coisa boa
Numa janela do Centro Cívico

Hoje me vi menina
Pensando como mulher
Pra não dizer que não falei das flores.



segunda-feira, 6 de abril de 2015

Empatia

Olhei
Como talvez ninguém tenha olhado
Para sua dor
Querendo atenuar
Quem sabe esconder
Que suas dores também foram minhas
Um dia                                                  
Olhei                                                                    
Pra quem sabe, fingir                        
Que não as tenho mais.
                                                           

domingo, 29 de março de 2015

Meio desligada

Parece não sentir os pingos de chuva. Ignora a sombrinha. Atravessa a rua sem olhar. O motorista freia e busina. Na pastelaria  a chinesa perde a paciência ao repetir os sabores pela quinta vez. Come o pastel de carne, horas depois lembra que  não come carne. Mas aí  já  havia comido o pastel. Resolve ir para casa. Vai para o lado contrário ao seu ponto de ônibus. Deveria ter ido para a aula de inglês. Mas quem precisa de inglês? Gostaria de entender o que passa em seu próprio coração. Na bolsa  o livro que deveria ter devolvido na biblioteca. Chega em casa e abre o caderno pra estudar. Rabisca as iniciais dele. Se na prova caísse a biografia dele, tiraria dez.

http://m.vagalume.com.br/os-mutantes/ando-meio-desligado.html

quinta-feira, 26 de março de 2015

Perto do acelerador

Cada um só  vê  sentido
rodeando seu próprio  umbigo
Minha vida tomou tantos rumos
Eu só queria  não  ter sentido.
Não
Não
Não
Não

Procurei meu melhor amigo
Estava perto do acelerador
E tão  distante  estava aquele dia
Quando engoli minha própria dor

Cada rota de fim de mês
Cada tempo com a sua vez
Encontro a raiva, encontro as voltas
Só  não  te encontro
Desde aquela vez

Não
Não
Não
Não

Só  num instante  esqueci  voltar
Minha vida  não olhou pra trás
Foi na semana que  olhei no espelho
Foi num instante desisti pousar
Mas
Não
Não
Não
Não

quarta-feira, 4 de março de 2015

Hoje gritei seu nome.

Hoje gritei seu nome
Queria que soubesse
Que era minha voz
O que você ouvia

Desejando paz
Desejando mais
Desejando estar

Somente estar
Nesta tua coragem desperta
Tive medo dos teus medos
Tive medo do teu vazio

Desejando estar
Desejando mais
Não olhar pra trás

Orgulho de tua vitória
Com medo dos teus receios
Queria que soubesse
Que eu te daria as mãos

Desejando estar
Desejando mais
Te contar os meus desejos

De também não ter mais medo
De também ser sincera
De abrir os lábios e falar

Tudo o que um dia engoli
Com receios iguais aos seus
Faz tanto tempo
Ou foi ontem a noite mesmo.

Desejando estar
Desejando mais

  • Esquecer.


terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Entre dois amores.

Quando eu estava no colégio, um dia a professora de Ensino Religioso, que era freira, explicou que só existem duas vocações. Uma é para o sacerdócio a outra pro matrimônio. Disse que nunca deveríamos confundir com profissão. A vocação era um dom de Deus.

Ela me mostrou uma foto dele. Ele era realmente lindo! Loiro. Cabelos dourados e olhos azuis. Na foto, uma declaração de amor dedicada a ela. Os olhos de Rafaela brilhavam ao falar dele. Disse que eram iguais. Pensavam igual. Que ele seria tudo o que ela sonhava num marido. Ficaram algumas vezes juntos....Um dia, ela, que é tão senhora de si, o pediu em casamento. Então ele sorriu com aqueles olhos apaixonantes e disse: -Não Rafa! Você sabe que eu te amo, mas meu chamado é muito mais forte. Uma coisa é o amor que sinto por você. Outra é a minha vocação. Talvez um dia, eu ainda celebrarei o teu casamento...Tenho um convite para você. Abra!
Rafaela foi para Roma. Na cerimônia religiosa em que ele se tornava Padre, ela chorou...
E toda aquela história me remeteu a aula de ensino religioso. Pensei nas vocações, embora não compartilhe da fé de Rafaela, consegui ver com clareza algo que ali estava explícito. O amor tem várias faces. O amor não está condicionado ao plano físico. As vezes, queremos o amor além de nossa vocação, mas só estaremos plenos quando conseguirmos viver em separado cada uma dessas faces...


http://www.vagalume.com.br/legiao-urbana/monte-castelo.html

terça-feira, 27 de janeiro de 2015

O encanto da sereia.

Ele andava pela praia despreocupado. Estava de férias. Usava bermuda, camiseta e chinelos. Estava uma temperatura agradável. A água quente convidava para um banho de mar. Mas ele tinha ido lá pra pensar. Fazia alguns dias havia terminado um relacionamento. Já estava cheio de pessoas comuns e vazias. Não podia continuar com ela pra ter com quem conversar ou pior, para ter sexo garantido. Era isso. A maioria dos seus amigos, chegaram numa idade onde dava preguiça de sair pra balada, o emprego era estável, a conta do banco não preocupava muito. Então encontraram uma mulher, juntaram as escovas de dentes e só. Churrasco no domingo com amigos e familiares, televisão a noite depois do trabalho, joguinhos e redes sociais no computador ou celular. Isso não era vida.
    Ele queria algo diferente. Tentou falar sobre isso com um colega de trabalho. Parece que o cara não entendeu nada do que ele disse. Sugeriu um filhote de cachorro." Ele vai ser um bom passatempo, são tão amorosos, e precisam de cuidados também. Você e sua garota terão algo pra se ocupar. ..Foi o que ele respondeu.
    Melhor deixar pra lá. A namorada chorou, o chamou de monstro. Como podia? Agora que ela já fazia planos pro casamento? Depois de cinco anos juntos? Já tinha pensado na festa, até nos padrinhos...Não. Ele não prestava...
     Mas por que ele tinha que ser diferente? Porque não podia se acomodar? Por que tinha  que esperar e querer sempre mais de tudo? Não podia só trabalhar, transar, beber cerveja e reclamar do governo como todo mundo?  Assistir o jornal na tv e comentar na segunda feira tomando café na empresa sobre a gostosa da novela ou sobre a bunda da nova estagiária?
    As pessoas pareciam satisfeitas assim. Tolerando a sogra. Aguentando o cunhado. Dando  de vez em quando bom dia pro vizinho. Reunindo-se de tempos em tempos com colegas da faculdade. Rindo de velhas piadas.
    O gerente da empresa estava tendo um caso com uma das meninas da contabilidade.  Já era coroa, na casa dos cinquenta. A moça de vinte e dois anos, ainda estava na universidade. Era pouco mais velha que o filho dele. Ah, sim! Este era o assunto de todas as rodinhas do trabalho. Parecia que a diversão era fofocar sobre a vida dos outros...Será que só ele não dava a mínima pro babado do mês?
   Porque a vidinha comum que parecia tão doce a todos, a ele amargava os sentimentos?
   Porque só ele achava a vida uma grande merda?
   Parou de pensar um pouco, algo o distraiu. Um grande peixe saltou na água. A princípio, achou que era um golfinho. Subiu nas pedras para ver melhor. O peixe saltou novamente. Parecia enroscado em algo. Desejou como nunca ter mudado de ideia ao sair da pousada e ter trazido o celular com meia bateria mesmo...Aquilo daria uma boa foto... O peixe se aproximava cada vez mais da praia. Ele desceu das pedras, parecia não acreditar em seus olhos. Enrolada numa fina rede de pesca, uma criatura singular. A metade de cima de seu corpo era de uma linda mulher. Em baixo, uma grande cauda de peixe. Parecia desesperada. Se debatia na fina malha. Ele pegou no bolso o chaveiro do carro, onde tinha um pequeno canivete. Foi cuidadosamente cortando a rede e tirando por fim,  a criatura daquela tortura. Ela sorriu. Não falava, mas mentalmente parecia se comunicar com ele. Ele jogou a camisa e o chaveiro na areia e entrou com ela no mar. Mergulhou grudado naquela mulher incrível. Ela quase escorregava. Não era como tocar uma mulher comum. A pele fina e extremamente macia o excitava como nunca. Ele nem bem sabia o que estava fazendo. Nunca tinha estado com nenhuma garota que não tivesse duas pernas...Mas ela mergulhava e o conduzia. Ela sabia exatamente o que fazer.
     Ele não queria desgrudar dela. Quase lutou para não ser levado a praia novamente.  Já havia escutado histórias de sereias. Mas aquilo era fantástico demais. Nunca mais poderia esquecer do perfume daqueles longos cabelos, perfume encantador. Ou da magia de sentir a cauda se abrir e de ser sugado para dentro dela.
Ela era tudo o que ele sem saber, desejou. Mas agora ela já estava longe. Em algum lugar do mar. Escutaria para sempre em seus pensamentos aqueles cânticos gemidos.
    Ele comprou uma prancha. Todo e qualquer tempo que dispunha, passava no mar. A cada onda a procurava. Agora sabia porque era tão incompleto. Tudo o que ele mais  queria na  vida estava longe demais do seu alcance.

http://www.vagalume.com.br/ira/eu-quero-sempre-mais.html

segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

No balanço da rede.

No balanço da rede
Vejo as estrelas
Queria seguir o  o Cruzeiro do Sul
Lembro de algumas conversas
Olhando o céu negro azul.

No balanço da rede
Escuto o mar
Queria seguir sem medo  
Lembro de alguns sonhos
Construindo meu enredo.

No balanço da rede
Vejo as estrelas
Queria seguir apenas
Lembro que em duas rodas
Tudo vale a pena.
                                                         
No balanço da rede
Vejo um gato
Leve, andando num muro.
Talvez caçando um rato.

No balanço da rede
Vou seguindo a vida
Hoje estou aqui
Amanhã nem sei
Quem sabe amanhã seja o início
De tudo o que um dia sonhei.