domingo, 21 de fevereiro de 2016

Míope

Eu vou fazer um poema míope
Pra todos os amigos
Por quem passei
E que me acham metida
Antipática e nem sei
Para os que viraram inimigos
Pros que a cara virei
E para os estranhos que achei conhecer
E sem mais nem menos cumprimentei
Quero que saibam
Que eu não enxergo
Que só bem de perto
Vou reconhecer
E se passar por mim
Por favor, grite                
chame atenção
E pra aqueles que nem sabiam
Desculpem, de coração! !!!
Desi Veloso

domingo, 14 de fevereiro de 2016

Fio e agulha

Na prática da vida não existem segredos. Se você quer costurar, antes tem que por o fio na agulha. É sempre igual, se o fio estiver solto vai escapar...Se tiver muito tenso, arrebenta.
Desi Veloso 14/02/15 ( Fazendo um aninho)

Minhas costuras são como meus poemas. Não são perfeitas, sou uma amadora...Mas em cada ponto um reflexo do que sou. E no final, acho tudo lindo, porque fiz com amor!
Desi Veloso 15/02/15

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

Somos necessidade

Somos necessidade
Por isso nos inventamos
Somos a loucura
Somos a ilusão
Somos poetas
Somos busca e fuga
Da realidade
Desi Veloso

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

Carrão

Ele era de uma família classe média alta, típica Curitibana.  Tinha mais sobrenome e pose que dinheiro. Estudou nos melhores colégios, no clube onde foi praticamente seu segundo lar havia uma placa: "É proibido ás babás, colocar os pés na piscina".
Ela foi educada à moda antiga. Filha única, exímia pianista, casou virgem com seu primeiro namorado. Nunca pensou em trabalhar fora, casou assim que recebeu o diploma da faculdade de Belas Artes. Colocou o garoto na escolinha de educação infantil meio período só pra ter tempo para fazer suas compras, ir ao salão de beleza e cuidar do gerenciamento da casa. Mas o garotinho que era tão doce, um dia começou a se rebelar na escolinha.  Chamada várias vezes em reunião com a professora e pedagoga da escola, numa dessas vezes escutou uma senhora que cuidava da limpeza, comentar assim que passou por ela. " Adianta muito essas coisas de psicologia, o piá tá assim de tanto ouvir as piadinhas sobre o pai dele e a ninfetinha!"
Levou um susto. Sua barriga gelou. Impossível ser sobre ela e seu filho o comentário maldoso. Mas ficou intrigada. Sem tirar da cabeça, comentou com a manicure,  já tão acostumada com esse tipo de confidência. A manicure, velha esperta, sabedora dessas coisas da vida, orientou a fazer uma blitz. Como quem não quer nada, uma olhadinha no celular do marido. E assim ela fez. Esperou ele entrar no banho e deu o celular na mão da criança.  O pai costumava pôr joguinhos pro menino, que esperto sabia destravar o celular. Celular destravado, deu um pacote de salgadinho pro moleque. Guloso, largou o celular na mesma hora. E lá estava. Teve ânsias. Conversas do marido com uma vizinha de dezessete anos. Estava tudo explícito ali. Encontros, fotos. O mundo dela acabou naquele momento.  Ou talvez reiniciou, com o fim do casamento.
Resolveu trabalhar. Um primo conseguiu emprego pra ela numa grande empresa. Foi no estacionamento que conheceu ele. Com o sofrimento, ela amadureceu. Descobriu que romance, amor eterno, nada do que aprendeu com as princesas da Disney era verdadeiro.  Jamais teria com qualquer outro homem qualquer relacionamento que não fosse apenas sexual.
Ele como homem, nunca sentiu o peso que a sociedade impõe às mulheres, de fidelidade e relacionamentos monogâmicos. Cresceu ouvindo piadinhas sobre "as filiais " dos amigos do pai. Porque, em qualquer sociedade machista, homens nunca foram monogâmicos. Ah, sim. Mulheres sempre traíram também. ..Mas mulher que faz isso é "vadia". Homem é homem. Então ele fazia o que tinha vontade, sob aplausos dos amigos e debaixo do manto do casamento perfeito e aceito pela sociedade.
Não precisou de muita conversa pra seguirem após o trabalho para um Motel.
Pediram uma suíte com garagem pra dois carros. Ele, o garanhão casado, precisava manter as aparências.
O motel, construído nos anos 90, pra uma economia de carros populares que jamais previra um aumento do gosto do brasileiro em ter "carrões ", tinha espaço um pouco apertado, tanto na largura quanto no comprimento. Ele, muito gentil, esperou ela entrar com o carro. Colocando sua caminhonete de ré. Ah, sim. Ela era uma mulher linda. E ele um pouco afobado, largou o carro sem ao menos fechar direito o portão da garagem que ficou meio levantado, com parte do carro ainda pra fora. Tinha coisas mais urgentes para fazer.
Por trás daquele machista, havia um romântico... Entrou e a abraçou. Beijou como se por ela fosse apaixonado, soltou os longos cabelos dela.
Quando estavam já numa situação em que o mundo poderia acabar, que não dava pra parar, o telefone do motel começa a tocar. Extremamente irritado ele atende.
- Senhor, é da portaria. O seu carro tá andando. Sozinho. Por favor senhor, seu carro tá andando!!
Ele, já com as partes desmotivadas pelo susto, enfia a cueca e corre pra garagem. O portão havia terminado de levantar. O carro, que ele tinha, na pressa, esquecido de puxar o freio de mão, desceu pelo Motel, acertando em cheio a lateral de um SUV.
O careca que dirigia o SUV, já foi gritando que não tinha havido nada, apesar do gigante e aparente amassado. Fechou o vidro pra ninguém reconhecer a loirinha que estava com ele.
Ele sem graça. Recolocou com cuidado o carro na garagem. Ainda tinha tempo pra animação voltar e terminar o que estava fazendo.
Era um homem de sorte! Quem diria, hein?  Bater o carro numa situação constrangedora dessas. Ainda bem, que em Curitiba, onde todo mundo de alguma forma se conhece, o caso foi abafado.
E o careca, do motel foi pra concessionária. Vendeu o carro por um preço irrisório.  Batido mesmo. Já saiu na mesma hora com outro carro. Precisava se livrar da prova. Nada podia abalar seu provável novo mandato de deputado.


"... qualquer semelhança com fatos e personagens reais pode ser creditada á incompetência do autor em reconstruí-los de forma dissimulada e irreconhecível. " - Nei Lisboa.